Vestida para molhar


Às vezes eu fico um pouco brava com o tempo. Acho que, grande parte da minha vida eu amei o calor, algumas lembranças remetem as minhas tardes de verão na piscina, meus pés descalços e cobertos de areia e a única preocupação em mente era ser a primeira a tomar banho quando chegasse em casa. Acho que o verão só combina com aquela cidade. Com a garota que eu sou quando estou lá. Nada me faria mais feliz nesse exato momento do que sentir a areia úmida de baixo dos meus pés enquanto o vento sopra suas canções.

Olhei para o céu, como todos os dias, tentando prever o que ele traria para mim. Misterioso. Como eu posso estar olhando para o mesmo céu que alguém em Floripa, ou na França? O quão profundo ele é? O céu. As nebulosas nuvens estavam por toda parte. Vinha um temporal, na certa. Ainda bem que calcei minhas botas e trouxe um casaco – pensei.

Depois de viver tanto tempo em uma cidade escandalosamente quente, passei a preferir o frio. E essa não foi a única mudança. Descobri uma parte de mim que eu nem imaginava existir. Eu era desde o inicio, completa. Não havia nada de errado comigo. De certa forma isso me conforta.

Eu nunca descobri o que o céu me guardava, mas a cada dia em que olho para ele, as minhas esperanças se renovam.


Aquele temporal se transformou em um céu azul celeste, as flores estavam brotando no jardim, os morangos estavam mais doces do que nunca, e a borboleta que eu sou continua em constante metamorfose. Acho que não importa se foi o sol quem bateu a minha porta. Se for ele,meu vestido estará em meu corpo, mas se vier a chuva, vou vestida para molhar, lavar a alma e regar o jardim.  


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