Feitos de papel
"Cada um de nós vê o mundo com os olhos que tem, e os olhos vêem o que querem."
Pessoas vivem correndo para lá e para cá. Contra o tempo,
atrasadas pros seus compromissos, para levar a criança ao colégio, para chegar à aula a tempo, para ir para o trabalho. Vida de cidade grande é mesmo um saco
- às vezes- no entanto, não é só aqui que essas coisas acontecem. Inúmeras
vezes eu sai correndo de casa preocupada com o horário: Será que eu chego lá a
tempo? Se eu sair de casa correndo dá tempo de pegar o ônibus das 9 hrs. Sem
nem dar um abraço e um beijo na minha mãe, como sempre. O meu horário é tão
mais importante do que isso... Oh!
Foi ali, na rua, que eu vi o quanto eu, você e todo
ser humano somos frágeis. Eu vi uma pessoa baleada, morta, ali no asfalto, como
se ele não fosse ou valesse nada. Como lixo, descartável. Na minha cabeça era
só um pesadelo, e eu queria que fosse, ah como eu queria. Ver alguém perdendo a
vida me deixou assim, tão frágil, perdida. Só quero o colo da minha mãe.
Então eu pensei nas vezes que dei importância paras as
coisas erradas. Como me preocupar com o tempo do que com a minha vida, com a
vida da minha mãe. O mundo é tão perigoso e a prova disso não pode ser apagada
da minha mente. Nunca. Quantas vezes eu disse eu te amo pra ela, ou pra
qualquer outra pessoa? Bem, quase nenhuma vez. Mas depois, depois disso, eu
corri pra dize que a amava, pra dar um beijo no meu irmão. E olha só, eu perdi
o ônibus. Mas veio outro logo depois. Quem sabe se eu poderia dizer eu te amo e
abraçar a minha mãe outra vez? A gente tem sempre outro dia para tentar fazer
as coisas certas, para pegar o ônibus no horário. Mas aquela pessoa que eu vi
perder as vida aos pouquinhos, ela não teve a chance de dizer adeus, de se
despedir, porque simplesmente lhe arrancaram a vida.
Então, você ai, vê se aprende que nada é mais importante do
que a vida de uma pessoa, do que um gesto de carinho, do que o amor, do que
Deus. Você pode se atrasar quantas vezes forem possíveis, perder milhares de
ônibus, isso não é nada. Somos frágeis, feitos de papel. Se a chuva vier,
esteja de guarda chuva, pra não se molhar. Não guarde o amor no bolso, semeie
entre as pessoas que você ama, e ai, o mundo será menos hostil e malvado.
Porque o amor cura tudo. Cura a alma.
Sinto muito pelo rapaz. Ele não teve a chance que eu e você
temos. E eu quero fazer valer a pena com essa minha chancezinha, quero fazer
diferente. Quero que cada um saiba o seu valor, quero ficar no colo da minha
mãe, quero ver aqueles filmes tediosos que ela e meu pai amam de ficção
científica junto com eles, porque não importa qual filme seja, mas estar junto
de quem se ama não deveria ser esforço algum. Eu acredito na força do amor.
Obrigada por chegar até aqui, obrigada. Eu sou tão grata por
isso.
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